sexta-feira, 15 de junho de 2012

Produção sustentável motiva extrativista a abandonar o forno de carvão



Mais uma vez a Praça da Sociobiodiversidade trará para a comunidade internacional uma amostra dos produtos de empreendimentos constituídos por povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares que utilizam os recursos da biodiversidade brasileira para sua viabilidade econômica e socioambiental. A divulgação do trabalho, promovida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e outros ministérios (MMA, MDS, além da Conab), poderá ser conferida durante a Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – que começou ontem (13) no Rio de Janeiro e prossegue até dia 22 de junho.
Montada na Arena Socioambiental, no Píer Mauá, a praça vai reunir 23 empreendimentos familiares e será mais uma oportunidade de troca de experiências com foco em práticas sustentáveis de produção apoiadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em parceria com outros ministérios, como a produção orgânica, agroecológica, ecológica e de economia justa – fair trade.
Experiências como a da Rede de Comercialização Solidária de Agricultores Familiares e Extrativistas do Cerrado, da qual faz parte a agricultora extrativista Aparecida de Jesus Moura. Ela é daquelas mulheres cuja história faz qualquer pessoa refletir sobre a vida e o seu valor. Nascida numa carvoaria – sem nenhuma “força de expressão”, pois o rancho da família ficava ali mesmo, junto aos fornos utilizados para a queima da madeira –, a mineira aprendeu com o sofrimento o valor de produzir de forma sustentável.
Natural de Lassance, localizada no norte de Minas Gerais, a 269 quilômetros da capital, Belo Horizonte, há pouco mais de dez anos, dona Aparecida começou a perceber a importância do trabalho das famílias que faziam parte da rede; comparado à atividade na carvoaria, que queimava as árvores e aos poucos destruía a biodiversidade do cerrado na região.
Com sede em Goiânia (GO), a rede de comercialização, comunitária e orgânica, reúne agricultores familiares, extrativistas, pescadores, vazanteiros e guias turísticos que se organizaram para comercializar seus produtos e trazer desenvolvimento local sustentável. Um objetivo que só foi possível a partir do aproveitamento da biodiversidade local, aliado ao cuidado com os recursos naturais, tomando como base os princípios da agroecologia.
Mesmo vivendo na área rural do município, localizado às margens da Serra do Cabral e banhado por rios e cachoeiras, o maior contato de Aparecida com a terra era na pequena roça de milho, feijão, arroz e mandioca. “A roça era só para o consumo. A renda mesmo vinha da carvoaria”, relata.
Mas foi por volta de 2001, quando nasceu o terceiro filho, que a família mudou-se para a sede do município, onde conheceram o grupo que fazia parte da rede. Da extração sustentável de sementes do cerrado – baru, sucupira, jatobá, vassoura, faveira, entre outros tantos – aquelas famílias tiravam o sustento, ao mesmo tempo em que valorizavam a biodiversidade local, gerando renda e trabalhando com dignidade – algo que Dona Aparecida, até então, não conhecia, graças ao penoso trabalho na carvoaria. “Aos poucos percebi que a produção de carvão estava destruindo a vegetação nativa, inclusive o baru, tão importante para o sustento daquelas famílias”, recorda.
Foi então que a vida de dona Aparecida e de sua família mudou de rumo. Hoje ela se orgulha de fazer parte da rede, ao lado de outras 99 famílias, só em Lassance. A renda da família melhorou, assim como a qualidade de vida, fruto da atividade produtiva baseada nos princípios da sustentabilidade e da agroecologia.
E foi nesta prática de produção que dona Aparecida e outras famílias extrativistas descobriram uma forma diferente de secagem da faveira - planta medicinal, também conhecida na região como favela. De um jeito simples, secando naturalmente, nas cercas das casas, a nova técnica trouxe resultados positivos, não só para a qualidade da matéria prima, como para o retorno financeiro. “Com esta nova técnica de secagem, o quilo da faveira que rendia R$ 1,33, passou para R$ 1,50”, revela, satisfeita. Considerando que o produto é responsável por 40% da renda mensal das famílias da rede na região, a melhora no preço é ainda mais significativa.

A Rede
Criada há 12 anos, com a junção de seis comunidades rurais do Centro-Oeste, a Rede de Comercialização Solidária de Agricultores Familiares e Extrativistas do Cerrado, também chamada de Coopcerrado, está presente em 45 municípios de cinco estados (Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso) e reúne mais de 1,6 mil famílias. No ano passado, o volume de vendas da cooperativa atingiu a marca de R$ 2,8 milhões.
A organização levará para a Rio + 20 mais de 30 produtos do catálogo da cooperativa, como a linha de temperos e condimentos e a linha de derivados do baru – castanhas, cookies e barras de cereal. Todos os produtos, que trazem a marca Empório do Cerrado, contam com o Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (SIPAF), emitido pelo MDA.
Bioma Cerrado
Rico em biodiversidade, o Cerrado é formado por áreas dispersas em 37 ambientes, formando um complexo vegetacional de múltiplas paisagens, que ocupa cerca de 36% do território brasileiro, considerando suas áreas de transição.
Praça da Sociobiodiversidade
A Praça da Sociobiodiversidade é uma estratégia do Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade (PNPSB) de promoção comercial para os produtos da biodiversidade brasileira. Lançada, oficialmente, na VII edição da Feira Brasil Rural Contemporâneo, realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, a praça é uma ação itinerante que congrega empreendimentos constituídos por povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares que utilizam os recursos da biodiversidade brasileira para sua viabilidade econômica e socioambiental.
Participam desta edição da Praça, na Rio+20, 23 empreendimentos e redes de empreendimentos dos Biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica.
Segundo o diretor de Geração de Renda e Agregação de Valor da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF/MDA), Arnoldo Campos, com esta ação, o MDA busca ampliar o espaço de divulgação dos produtos dos biomas brasileiros, bem como as iniciativas sustentáveis dos empreendimentos apoiados pelo PNPSB.
Plano da Sociobiodiversidade
O PNPSB foi lançado em 2009 e desde então tem a coordenação dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA), Meio Ambiente (MMA), Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), tendo, o MDA, a competência de Secretaria Executiva.
Com abordagem sistêmica, participativa e descentralizada, a execução do plano propicia um ambiente favorável para o desenvolvimento de planos de trabalho específicos e a construção de uma visão estratégica de apoio e fomento aos arranjos produtivos locais e regionais, entendendo que, somente assim, as cadeias de produtos da sociobiodiversidade e os extrativistas serão fortalecidos.
“Enquanto reconhece o potencial natural e sociocultural da biodiversidade brasileira, o plano vislumbra oportunidades de investimento em negócios sustentáveis tanto para o mercado nacional como internacional, por meio da inovação de produtos nas mais variadas áreas, desde alimentos, artesanato, prestação de serviços, ecoturismo, entre outros”, detalha o diretor do MDA.
Atualmente, o PNPSB desenvolve ações pactuadas com dez estados da federação – AM, AC, PA, MT, RO, AP, TO, MA, CE e PI - e atua nos eixos da produção e extrativismo sustentável, processos industriais, mercado institucional e diferenciados, organização social e produtiva e nos serviços da sociobiodiversidade. Estes eixos possuem linhas de ação transversais de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação, assistência técnica e extensão rural, capacitação, crédito, fomento e incentivos fiscais, divulgação e comunicação, além de marco regulatório.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Continue interagindo!